segunda-feira, 9 de junho de 2008

dR., MEU FILHO NÃO COME !!!

D. Joana chegou em meu consultório pela primeira vez, trazendo Robertinho, seu filhinho de 6 anos. Garotinho esperto, simpático, mas muito magrinho, bem abaixo da tabela. Sua mãe foi logo me dizendo : "Dr. Eu vim aqui porque meu filho não come nada! Já fui a vários pediatras, que receitam um remédio para o apetite, mas adianta muito pouco. Robertinho come melhor apenas uns dias, depois volta a inapetência !"
Essa queixa de falta de apetite é muito comuns nos consultórios de pediatras. E, infelizmente, não é o tipo de problema que pode ser resolvido apenas receitando um remédio. É preciso que as mães tenham informações importantes sobre e alimentação, sobre as causas da falta de apetite. Vale a pena informar-se melhor porque, como sabem todas as mães que têm esse problema em casa, ele gera muita ansiedade. Os familiares esforçam-se por resolver o problema, ficam angustiadas, essa angústia dissemina-se em toda a família, ficam nervosos a mãe, o pai, os avós, as tias, todos os que têm contato com a criança. Quanto mais preocupados os familiares, menos come a criança. Por isso, escrevi essa inform,ação que — tenho a certeza —vai lhe ajudar muito se seu filho "não come nada...."
O primeiro ponto sobre o qual queria conversar com você é sobre o tipo de alimentação. Há um aspecto qualitativo e um aspecto quantitativo. O que quero dizer com isso ?
A criança pode comer muita quantidade de alimentos e seu peso até estar bom, de acordo com as tabelas, com sua idade e sua altura. Mas ela só quer uns poucos tipos de alimentos. Julinho só gosta de feijão com arroz e ovo, Maristela come quase que só batata frita com bife. Betinho ainda só quer saber de mamadeira. Como comem grandes quantidades desses alimentos de sua preferência (que comumente têm muitas calorias), geralmente estão até gordinhos, às vezes mesmo gordos demais...
Outras crianças aceitam uma alimentação mais variada, incluindo algumas frutas e alguns vegetais, mas comem muita pouca quantidade desses alimentos; "só beliscam", como dizem as mães. Finalmente, há os que nem comem muita quantidade nem comem muita variedade. São maioria.
É importante que as criança comam quantidade suficiente de alimentos para que se possam desenvolver bem, tanto na estatura como no peso. Mas é também muito importante que comam variamente, para que obtenham todas as vitaminas e sais minerais indispensáveis a um desenvolvimento saudável. As vitaminas e os sais minerais são chamados de micro nutrientes porque, embora, em quantidades mínimas, são indispensáveis ao bom funcionamento do organismo. Para só mencionar poucos exemplos : o ferro é indispensável para que a criança não fique anêmica; o cálcio, para ossos resistentes; a vitamina A, para uma boa visão.
É preciso, portanto, que as mães conheçam melhor os alimentos, saibam o que contém para poder oferecer a seus filhos um conjunto adequado. Esse é um dos motivos que me levaram a escrever esse artigo. Mas há muitas informações também importantes para as mães, como vocês verão.
"O que adianta saber o que devo oferecer a meu filho se ele não aceita comer nada ?", pode você me perguntar. Minha resposta : "É preciso indagar por que está acontecendo essa falta de apetite para que se possa tomar as necessárias medidas para corrigir o problema".
Há dois grupos de causas para a falta de apetite das crianças. O primeiro grupo é de causas psicológicas, relacionadas com o relacionamento dos adultos com as crianças; o segundo grupo é de causas físicas.
O ideal para os bebês, como é bem sabido, é serem alimentados ao seio. Mas alguns deles acabam recebendo mamadeiras, principalmente por motivos econômicos, porque a mãe trabalha e não pode dar sempre o peito. É preciso que toda a sociedade faça pressão junto às autoridades, para que sejam elaboradas leis permitindo que as mães fiquem mais tempo junto aos bebês e lhes amamentem durante mais tempo.
Uma das primeiras causas psicológicas da falta de apetite da criança já é observada no bebê. Quando a criança começa a receber mamadeira, o pediatra recomenda à mãe a quantidade adequada para a idade e o peso do lactente. Ou então ela obtém essa informação da própria lata do leite em pó. Mas é preciso lembrar que o bebê é um ser vivo, em cartas ocasiões tem mais fome, em outras ocasiões menos. Também essa fome varia, embora dentro de limites estreitos, de um bebê para outro. Mas a mãe, com medo de que a criança não mame o suficiente, não fica satisfeita se o bebê recusa a mamadeira naquela hora, ou então não mama toda a quantidade. Força, então, a criança a mamar mais do que ela quer, fica nervosa, angustiada, não respeita a reação da criança (virar o rosto, cuspir o leite, não engolir, chorar irritada...). O bebê pode terminar por vomitar não só os goles a mais que foi obrigado a ingerir mas até mesmo toda o líquido engolido. Com isso, mais angustiada ainda fica a mamãe e as outras pessoas da família e o bebê começa a perceber a ocasião da mamada como desagradável.
Logo em seguida, na evolução da criança, surge a oportunidade de comer alimentos diferentes, alimentos semi-sólidos, papas e sopinhas. Acostumada nos primeiros meses a receber apenas alimentos líquidos, a criança geralmente recebe com má-vontade o alimento semi-sólido : cospe, empurra a mão da mãe, afasta a cabeça. A mãe começa a impacientar-se, a ficar irritada, pode chegar até ao extremo de agarrar a criança à força e empurrar-lhe o alimento boca abaixo. Mas, na maior parte dos casos, a mãe e os demais familiares, procuram "distrair" a criança, para que ela não perceba que está comendo : vão à janela para mostrar os "bibis" circulando, fazem da colher um aviãozinho, contam histórias, prometem presentes se a criança "comer tudo". Apesar de todas essas providências, a criança acaba comendo pouco, sujando tudo, podendo até vomitar, para grande desgosto e tristeza da mãe. Ora, a criança deve sentir prazer ao alimentar-se; caso contrário, vai ter aversão a esse procedimento.

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